segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Assista no Youtube aos vídeos do Gadelha do Cordel
Sobre o lançamento do livro "O Céu dos Poetas"
http://www.youtube.com/watch?v=1LWSN4d_XMA
Sobre o lançamento do livro "A Saga de Franz"
http://www.youtube.com/watch?v=CYugG7g3S2g
e sobre o cordel "UNIFOR: O melhor lugar para você pensar"
http://www.youtube.com/watch?v=oPPQQJOTPSY
sexta-feira, 12 de setembro de 2008
Um outro paraíso
No joral Diário do Nordeste foi vinculada uma matéria alusiva à obra intitulada "Um outro paraíso" que pode ser conferida no endereço eletrônico http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=571132
Ademais,
obrigado a todos que compareceram
"Um pobre poeta se debulha em lamentações, abandonado que foi pela inspiração. Implora a Deus uma luz que “acorde seu coração semi-morto” e o faça escrever belas rimas. O Todo-Poderoso, em sua imensa generosidade, manda logo a própria Revelação, que lhe oferece um passeio pelo Outro Céu - não o convencional, nem inferno ou purgatório. Assim começa a saga de “O Céu dos Poetas”, do escritor Guethner Gadelha Wirtzbiki, livreto que será lançado hoje no Centro Cultural Oboé.O nome (de origem alemã) pode até enganar, mas Guethner é cearense nativo. A prova é a alcunha de profissão: Gadelha do Cordel, que deixa clara a preferência por um dos gêneros literários mais emblemáticos do Nordeste. Mas no coração do cordelista também cabem contos, prosa e, no caso de “Céu dos Poetas”, roteiro de teatro.Aos 27 anos, o escritor acumulou uma produção considerável, com 16 cordéis publicados, além de participações em antologias e contribuições periódicas a jornais. Seu nome foi citado como destaque da nova safra de poetas de cordel por Manoel Monteiro, um dos mais importantes cordelistas brasileiros em atividade e membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel. Participou ainda de nove antologias organizadas pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores.A obra de Gadelha também já ultrapassou as fronteiras nacionais. “A Herança do Sultão, Ou Os Três Anéis da Discórdia”, após lançamento na 7ª Bienal Internacional do Livro do Ceará, pela Tupynanquim Editora, foi apresentado no Congresso Internacional de Cultura Popular realizado no México, em 2004, e consta ainda na biblioteca da Princeton University , nos EUA. Já “A Lenda do Boto” (mesma editora) fez parte da exposição “O Ano do Brasil na França”, em 2005. “Esses novos temas, bem como a adaptação de obras da literatura universal, enriquecem o gênero de cordel. Faço porque gosto”, revela o poeta. Mais informações: Lançamento ´O Céu dos Poetas´ (R$ 10,00). Hoje, às 19h, no Centro Cultural Oboé. Fone: 3264-7038.
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
Trabalho científico citando "A verdadeira história de Ismália"
Neste ensaio, a professora Cristiane Roveda Gonçalves aborda a literatura de cordel enquanto gênero literário de importância na história da literatura brasileira, reconhecendo seu valor estético e social.
Estética Popular da Literatura Cordelista
Cristiane Roveda Gonçalves Pós-Graduanda em Estudos Literários / FURB
As manifestações artísticas estão presentes nos espaços sociais e são intrínsecas ao homem, independente do nível de escolarização ou, ainda, do chamado “nível cultural”. Cada organização ou grupo social apresenta suas manifestações de caráter artístico de maneira própria ou, ainda, por assimilação da cultura daqueles que a sobrepuseram pelo poder. Fato que comprova isso é conhecido no Brasil, especificamente na região nordeste do país, como literatura de cordel. Por algum tempo tratada apenas como uma representação da oralidade das “classes menos favorecidas”, tal literatura entra no cenário acadêmico apresentando características e uma estética tão peculiar que não mais é vista como uma literatura menor ou inferior.
Refletir sobre o estudo da Estética como disciplina filosófica nos levaria a pensar os conceitos ligados a Sócrates, Platão e Aristóteles. Para os filósofos da Antiguidade Clássica a Estética estava ligada a questões como o bem, a virtude e o belo. Nesses aspectos a arte só poderia ser considerada arte se pudesse suscitar no homem algum sentimento bom; a arte deveria apresentar-se aos sentidos da visão e da audição de forma que não causasse estranheza ou incomodo, mas sim sensações prazerosas relacionadas com a moralidade dos homens de bem.
Dentre inúmeros aspectos explorados pelos filósofos a poesia tomou grande espaço em suas discussões, para Platão “a poesia, arte máxima, exercida por quem é mais do que um artífice ou artista, [...] as outras artes, não podendo escapar da servidão da matéria, limitam-se a imitar as aparências sensíveis [...] falta-lhes a dignidade própria da poesia”1. Nessa perspectiva a arte da poesia apresenta-se como a mais pura das artes e também das mais antigas,
Já na tradição medieval a poesia contada ou recitada era uma atividade de entretenimento sempre presente nas comunidades, em suas festas e celebrações. A literatura conhecida como cordelista tem suas origens na tradição oral da contação de histórias. Na qual o narrador anônimo conta suas experiências, transmitindo um ensinamento moral. Para que não se perdessem os poemas foram criados cancioneiros e a partir disso a impressão dos textos passou a ser uma prática comum. Nos séculos XVI e XVII, em Portugal, Gil Vicente já se apropriava desta forma de distribuição para disseminar seu teatro crítico. Para divulgar seus textos, os autores precisavam, também, ter o talento de vendedor, já que declamavam trechos de suas obras, parando em momentos de grande suspense para os ouvintes expressarem seus sentimentos. Era nessa hora que iniciavam a venda.
Com a colonização do Novo Mundo por Espanha e Portugal, a literatura de tradição oral chega ao Brasil e encontra grande espaço na região nordeste, da Bahia ao Pará. Passa então a ser conhecida como literatura de cordel. Como a tipografia ainda não estava ao alcance de todos os romanceiros, a xilografia surge como a melhor de forma de se produzir os cordéis. Normalmente os autores são os responsáveis por toda a produção, divulgação e venda de seus textos. Organizam-se em feiras populares e ali começam a contar suas histórias entretendo quem por ali passa e assim divulgam e vendem suas obras.
Os cordéis possuem algumas características fundamentais de caráter estético como, por exemplo, a composição dos versos que obedecem a uma métrica. Os versos são sempre heptassílabos ou decassílabos. As estrofes também obedecem a um número de versos, podendo ser quadras, sextilhas, setilhas ou ainda décimas. As rimas normalmente são fáceis, no entanto alguns autores utilizam rimas ricas.
No prefácio dos “Contos Tradicionais do Brasil”, saliente Luís da Câmara Cascudo: “nenhuma ciência como o folclore possui maior espaço de pesquisa e de aproximação humana”2, assim percebe-se na obra dos cordelistas uma grande aproximação com o imaginário popular e todas as suas lendas e causos mais pitorescos. Há temas que se repetem, como a coragem dos cangaceiros ou os milagres do padre Cícero, contudo o que se vê é a representação escrita, através de longos poemas, da cultura popular de um povo sem grandes recursos. Um dos prováveis criadores do cordelismo no Brasil foi Leonardo Gomes de Barros. Poeta paraibano, nascido em Pombal em 1865, faleceu em recife em 1918 deixando um legado de cerca de mil folhetos escritos. Um de seus cordéis mais famosos é “A vida de Pedro Cem”, além de várias histórias folclóricas que nos remetem a algum ensinamento.
Nas palavras de Afrânio Coutinho, há um fenômeno que deve intrigar o observador dos movimentos culturais tendo como exemplo o Ceará, em que “a sua pobreza material contrastando gritantemente com a sua fecundidade de homens de qualidades moral e intelectual superior, com a vitalidade de sua vida espiritual, com a intensidade e freqüência de seus movimentos intelectuais”[...]3. Em uma região tão castigada, em que o nível de escolarização, de leitura e de desenvolvimento intelectual é baixo em relação a média nacional, encontramos autores que a partir de seus cordéis aproximam seus leitores dos hábitos ditos “intelectuais”.
A produção cordelista é tão vasta que encontramos, nos dias atuais, textos como A verdadeira história de Ismália de Gadelha do Cordel. No cordel publicado em 2005, Gadelha busca inspiração no poema Ismália de Alphonsus de Guimaraens, poeta simbolista de influências árcades e renascentistas. Há nesta produção literária releituras de clássicos da literatura universal como Os Miseráveis, adaptado por Antônio Klévisson Viana e O Corcunda de Notre-Dame, adaptado pelo poeta João Gomes de Sá. Nesta perspectiva percebe-se o interesse dos autores de seus leitores em tomar maior contato com a boa literatura e com o texto na forma escrita.
O mérito dos autores cordelistas vai muito além da publicação de pequenos livretos que são vendidos por um valor muito baixo. O grande valor dos cordelistas está na criação poética. Está também na possibilidade de fazer literatura onde não se vê perspectiva de espaço para tal produção artística, a produção, realização e manutenção de uma literatura rica no que tange as características da estética poética. Faz-se necessário observar com maior cuidado e respeito as manifestações culturais, a exemplo do cordel nordestino, pois nelas se encontra a verdadeira essência e pureza nos processos de criação artística.
1 NUNES, Benedito. Introdução à filosofia da arte. São Paulo, Ática, 1991. p.25.2 TAVARES, Hênio, Teoria Literária. Belo Horizonte, Itatiaia, 2002, 12ª ed. p. 420.3 COUTINHO, Afrânio. Conceito de Literatura Brasileira. Ediouro, p. 104
segunda-feira, 30 de junho de 2008
Prólogo- Cantos Singelos
Prólogo- Cantos Singelos
Quando, aos últimos lampejos dos raios solares, a natureza é triste como a imagem do desgosto, e o manto crepuscular se estende pela face do céu como pudico véu da melancolia, as aves soltam os últimos cantos da tarde,- saudosos como o momento da despedida; nessa hora em que a natureza apresenta um certo quê de misterioso abatimento e desânimo, e como que medita e suspira; nessa hora, digo, que a humanidade finda a luta do trabalho diário, e em que o sino do campanário pausada e tetricamente, toca as - Ave Marias, - minh’alma cisma, procurando ler no mesto silêncio da natureza, a causa desta sombriedade, que se apresenta neste momento em sua fronte abatida.
Minh’alma cisma, embrenhando-se nas recordações e nas contrariedades da vida, e de meu peito se escapam, como eflúvios, esses suspiros plangentes que se vão unir as lágrimas da natureza que chora!
Quando, porém, passa esse momento, e a lua assoma majestosa , baloiçando-se altiva na profundeza intérmina do espaço, e a natureza, como que despertando de um leve torpor, assume as suas divinas e habituais formas, das esplêndidas noites de verão; e que a vida parece rejuvenecer aos encantos mágicos desse luar imenso, à luz do qual, a brisa vespertina voga, agitando a folhagem das roseiras, como criança travessa, que corre pelo vergel, brincando com as borcoletas; arrancando das pétalas rubras das rosas, essa ambrosia agreste e penetrante, que deleita, que inspira e transporta a alma aos paramos etéreos, do delírio, das ilusões, da fantasia e do entusiasmo; quem não ama, na mocidade da vida ao doce influxo de todos esses encantos?
Quem não sente o calor das harmonias dos campos e ao influxo voluptuoso da fantasia das praças, o coração pulsar de gozo, embora crivado de espinhos? Quem há, que não sinta alguma coisa de poesia, escapar-se-lhes d’alma ao impulso sublime de todo esse conjunto de harmonias do solo cearense?
Quem há que não sorria com essas manhãs, e não suspire com essas tardes? Quem há que aspirando o doce perfume das savanas floridas, fitando os gigantescos picos desta serra que se ergue ao longe como uma cordilheira de anil, e de perto é verde-escura, como a face do oceano; fitando as grimpas alteneiras dessas montanhas gigantescas, que se enrolam pelos geados, no sudário branco das neves; contemplando essas matas escuras como madeixas, onde as corsas erram brincando pelas encostas dos talhados, onde a araponga bravia soluça às mornas virações das tardes, e onde o sabiá do monte trina numa harmonia arrebatadora, pousando à frondente copa do baco-pary, e a samambaia desce, como juba de cachos, pelo dorso das maçarandubas, onde os regatos passam gemendo pelas hastes dos ingazeiros, despenhando-se pelos degraus de uma escada de catadupas, indo espadanar-se por estas vastas campinas do sertão onde aves aquáticas tagarelam, ao meio dia, por entre as brancas flores dos aguapés, atravessando o cerrado das paca-viras, brincando, na transparência dos lagos?Por esses noites e manhãs de Junho, quando a copa do pau-d’arco, florido, é rubra como a face pura d’aurora,e a frança dos paus-brancos é alva como a neve, alcatifando de flores a estrada, à margem da qual a oiticica frondente e silenciosa se ostenta com sua ramagem protetora, à cuja sombra descansam os comoboreyros, durante a ardente calma do dia, como os árabes do deserto à sombra do verde e imponente sycomoro?
Foi ao influxo de todas essas harmonias do solo cearense, onde “todo o rapaz é poeta aos vinte anos”, segundo a frase do distinto literato, Antônio Bezerra, que eu também, embriagado na redolência dessa polianthéa de ilusões que ornam os sonhos da mocidade; que escrevi alguns versos, dos quais tirei estes, que agora publico com o título de - Cantos Singelos.
Estes versos, ou por outra, esta coleção de palavras, que pela aridez de meu espírito rude e inculto, contém os maiores e mais graves erros contra as regras da arte, que confesso ignorar, representam portanto, não uma obra literária que encerre qualquer valor pelo qual se torne recomendável; recomenda-se para mim por ser- a taça cristalina- e negra, em que se recolhem os sorrisos dos prazeres momentâneos, e as lágrimas do infortúnio que me entorna a existência.
É uma espécie de carteira, de notas, onde minh’alma aponta os amargos e doces momentos da vida. Portanto, o pequeno e humilde livro que agora publico, e que, como o “viajor errante”, penetra sem rumo e sem destino no mundo das letras, não vai procurar um nome a seu humilde e obscuro autor e menos uma colocação qualquer no vasto cenário das “Literatura pátria”. Não. Publico-o, como um simples presente que faço,- uma simples lembrança aos meus amigos, e a uma pessoa, a quem me prendo por uma afeição particular.
Pobre, obscuro, sem nome e sem instrução, agrilhoado pela corrente do infortúnio, que me persegue, sofrendo desde o berço uma horrível moléstia nervosa, hoje complicada com uma pericardite, uma hepatite e uma dispepsia, que tanto me abatem as enfraquecidas faculdades, concentrando-me n’este reduto de misérias, que me oprimem a existência, obrigando-me a empunhar o ferro d’uma arte que tanto contribui para a progressão do mal, como me têm feito ver alguns médicos, porém que a dura contigência da sorte não me permite abandonar, como não me permitiu estudar muita coisa; sem ter feito sequer exame de primeiras letras, não podia, portanto, arrojar-me a publicar um livro, com o fim de me salientar uma vez que reconheço a insuficiência de meus recursos para este fim.
Estes versos, os escrevo quase por uma simples mania, por mera distração, enquanto procuro esquecer os tormentos e desgostos que me pungem a alma.
Segundo os meus sofrimentos, estes versos deveriam ser escritos com-lágrimas; porém, eu faço por desviar-me da impressão; aprofundá-la seria agravar mais a chaga dos martírios; e por isso, faço, por um grande esforço que emprego, por procurar na aflição a calma e a resignação, trocando o gemido pelo sorriso, ligando ao mal o maior indiferentismo, embora não possa de todo extinguir o desgosto.
Apanhados pela pena no momento em que sinto disposto, e lançados no papel, conforme passam no ouvido com toda a grosseria e rudeza, são despidos dos atavios necessários e portanto, não têm a fragância e o colorido da poética, da gramática e da retórica e nem a inspiração educada pela literatura modo realista.
Eu sou o primeiro a confessar os meus erros, porque não posso, nem devo sacrificar a verdade. Além do pouco gosto que tenho na vida, que me faz ligar pouca atenção às coisas, mesmo que me dizem respeito, e pela falta de tempo que tenho para ocupar-me de literatura, deixo de corrigir vários erros que estavam ao meu alcance.
Fica portanto, demonstrado que a publicação d’este livro não é, como deixei dito, uma aspiração à glória. Não. Escrevo versos porque sou vivo e, como tal, sinto as emoções e os embates, e embriagado nos momentâneos prazeres e martírios! Sou d’esses ébrios, que não podem conter a alegria sem um grito, embora comprima o gemido da dor!...
A essa falange brilhante de moços instruídos e talentosos que se ergue altiva como onda majestosa do entusiasmo, como o apogeu da grandeza incendiada do século, compete a glória das letras; d’ela depende o engrandecimento da pátria, que n’ela vê a esperança de sua grandeza.
Eu, porém, filho da massa inculta, não posso fazer parte do banquete das letras, apenas bato palmas ao vê-la passar triunfante, como prova de que não seria indiferente ao movimento da divina evolução, se tivesse podido estudar alguma coisa que me conferisse as habilitações necessárias.
Se, porém, não o tendo podido fazer, e pelo fato de publicar um livro, os doutos e os críticos, sem atenderem às condições e considerações expostas, não julgarem os meus erros dignos de perdão, e lançarem os olhos sobre mim, considerando os meus rudes e singelos versos, como um produto da loucura, como um crime de lesa magestade às letras, como simples folhas de papel borradas; resta-me sempre um consolo: Que, se eu peco por ignorância, alguns pecam tendo conhecimento; se eu erro como simples praticante, alguns têm errado, sendo mestres.
Baturité, 14 de Dezembro de 1892
Francisco Silvério
sexta-feira, 13 de junho de 2008
Cordel História do Dias Macedo
História do bairro Dias Macedo
Ao Deus Todo-poderoso
Peço o Seu consentimento
Para então poder versar
Com total discernimento
Sobre, entre tantas idéias,
A que diante a platéia
Rouba a atenção do momento.
Ultimamente dedico
Meus fazeres literários
Às pesquisas sobre os bairros
Que estão no itinerário,
E para este ato tão nobre
Materialmente pobre
Nem cobro meus honorários.
Faço por amor que tenho
A nossa memória oral
Que teima em vir me dizer
Fatos da história local,
E extraio de Fortaleza
Retalhos desta beleza
Peças soltas de um total.
Antes que eu me prolongue
E não comece tão cedo
A discursar sobre o tema
Que já não é mais segredo
Vou agora revelar
Que venho cordelizar
O bairro Dias Macedo.
Falarei poucas palavras
Sobre específica história
Do povo e povoação
Que ainda constam na memória
Dos antigos moradores
Que amarguraram dores
Mas conquistaram vitória.
O bairro Dias Macedo
Que em versos eu represento
Surgiu nos anos sessenta,
Em seu primeiro momento
Brotou das mãos das volantes
Dos diversos retirantes
Que nele tinham um intento.
Intento de se instalar
fixando residência
Vinham fugidos da seca
Que induzia a indigência
Trazia a fome e a morte
E toda espécie de sorte
A furtar-lhes a decência.
Na capital procuravam
Por melhores condições
Vinham de suas cidades
De diversas regiões
A carregarem seus trapos
Agüentando os sopapos
Do trilhar dos caminhões.
Surgiu o Dias Macedo,
(Já sabido por vocês)
Às margens de uma BR,
Nossa cento e dezesseis,
Como bairro foi surgindo
Ao passo que ia emergindo
Dia a dia, mês a mês.
A população que vinha
Toda que desgovernada
Improvisou seus barracos
E numa pressa danada
Aumentou em dimensão
Espaço e população
Numa ação desenfreada.
Ainda às margens da cidade
Reconhecida tão bela
O bairro pegava forma
De desnítida aquarela
Que estava se completando
E o tempo foi passando
Originando as Favelas.
Falta de higienização
Tratou de trazer bem cedo
A preocupação de muitos
Dentre eles, os Macedo
Família proprietária
Da área latifundiária
Onde se passa o enredo.
Nesse ponto dou uma pausa
Na histórica seqüência
Para explicar ao leitor
Com tranqüila paciência
A respeito dos Macedo
Alicerces quais rochedo
Cuidaram da indigência.
O primeiro passo foi
Criar-se uma fundação
Que pudesse facultar
Ao povo, uma educação,
Abrindo-lhes horizontes
Construindo juntos, pontes
Promovendo a informação.
Antônio Dias Macedo
Era o nome que a regia
Fundação que no local
Muita coisa já fazia
Projetos financiava
Com o povo articulava
E à causa aderia.
Foi quem instalou o centro
Que comunitário era
Chamado “Nova vivenda”
Que o Paroquial pondera
A atitude louvável
Numa forma bem notável
Foi trazendo uma outra era.
Depois foi vez do Conselho
Provisório de Moradores
Que também estimulados
Digo senhoras, senhores
Que foi uma grande ajuda
Como quem planta uma muda
Prevendo as cores das flores.
Com o Posto de saúde
E com o Grupo escolar
A Fundação começou
De fato a financiar
Os projetos indicados
Que pro povo eram voltados
A fim de os capacitar.
Conselho de moradores
Com orientação política
Não poderia jamais
Envergar postura mítica
Ao Pirambu se aliou
Com o fato consolidou
Uma atitude mais crítica.
Outras coisas decisivas
Para do bairro, a expansão
Desafogando as favelas
Mudando a situação
Foi uma luta tecer
“Terra nossa” e “Renascer”
Frutos da ocupação.
Eis que o referido bairro
Foi melhor distribuído
Anteriormente rural
Ficou mais evoluido
Foi percebido no ato
Uma conquista de fato
Pelo povo conseguido.
A luta por moradia
Não cessou nenhum momento
E de fato culminara
Com seu desfavelamento
Favelas, antigos lares
Viram casas populares
No bairro em questionamento.
Regime de multirão
Ajuda mútua, amizade
Esperança, persistência
Perseverança, hombridade
Sentimentos que excedem
Que concedem e que concebem
O bairro em nossa cidade.
Além dos assentamentos
E conquistas, dentre tantas
A construção do semáforo
Na Avenida Pedro Dantas
Cruzando a Alberto Craveiro
Foi ato firme e ordeiro
Que até hoje glórias canta.
Distante nove quilômetros
Do centro desta cidade
O bairro Dias Macedo
Esbanja prosperidade,
Projeto de lei do então
Agamenom Frota Leitão
Vereador desta cidade.
Conhecido inicialmente
Por bairro "Mata-Galinha"
Com picaresco sentido
Que esta história continha
Do riacho que banhava
A relva que sitiava
A área circunvizinha.
Conta a memória local
Dos antigos moradores
Que o riacho em questão
Foi rota de vendedores,
E que um vendedor pateta
Perdera a carga completa
Que levava aos compradores.
Querendo transpor o riacho
O veículo tombou
Pois o caminhão de carga
Logo desequilibrou
E toda a carga que tinha
(A caçamba de galinhas)
No riacho se afogou.
Depois de "Mata-Galinha"
Outro nome o sucedeu
Foi com o nome Parque Olinda
Que muito se conheceu
Não tardou, logo bem cedo
Tornou-se Dias Macedo
Nome que prevaleceu.
Caros amigos leitores
Peço-lhes compreensão
Se acaso, porventura
No curso da redação
Escrevi neste cordel
Alguma história infiel
Usando de imprecisão.
Já que recorri com afinco
À minhas fontes de estudo
Sou ciente que de fato
Não pude relatar tudo
Mas fui muito fidedigno
E se acharem-me indigno
Abaixo a guarda do escudo.
Guethner Wirtzbiki, 10/06/08
terça-feira, 13 de maio de 2008
A Herança do Sultão em biblioteca Universitária dos EUA
quinta-feira, 24 de abril de 2008
Um (ainda) segredo
Envolvendo-me a dispersa atenção
Onde fisga com os olhos, meu pensar
Refletindo toda a imaginação
Gerenciando o que eu sinto no ar
Implicando forte interrogação.
Amiga te confesso formalmente
Tens o poder de (re)mexer comigo
Intento que jamais te descontente
Meu querer é tornar-me teu amigo...
Bom seria poder tornar presente
O provar um momento a sós contigo.
Guethner Wirtzbiki, 15/04/2008
quinta-feira, 3 de abril de 2008
O Selo Editorial PalavrAndante e o Zine Palavra Desordem, por Alexandre Gomes
Amanay Parangaba
* Esse texto pode ser conferido no link do Palavra Desordem : http://www.palavradesordem.siteonline.com.br/
O "Novo Cordel", por Manoel Monteiro
Por Manoel Monteiro (*)
Venho falando há bom tempo que o - Folheto de Feira - ou cordel, livretos em poesia, tão difundidos no Brasil afora, está vivendo momentos de revitalização. Na vida nada acontece por acaso, tudo justifica-se. Vejam: Muitos dos poetas em atividade estão discutindo problemas atuais, fazendo que seus textos concorram em pé de igualdade com os demais meios de comunicação e levando o seu trabalho poético às escolas de todos os níveis, a ponto de muitas delas já classificarem, sem nenhum constrangimento, o folheto como paradidático. A leitura de uma obra poética é prazeirosa pela própria leveza do estilo literário.
Os poetas brincam de contar Histórias e não é de hoje que vêm acomodando criativamente clássicos da literatura universal na exigüidade das 16, 24 e 32 páginas que os cordéis ocupam. Fora as histórias inventadas (O Vingador da Honra ou o filho justiceiro) têm as histórias recontadas (A Herança do Sultão ou Os 3 anéis da discórdia, de Gadelha do Cordel) e, além disto, ocupam-se de fatos do cotidiano (O Terrível Assassinato de Seis Empresários Portugueses ou O Monstro Lusitano, de Vidal Santos e Klévisson Viana).
É esta diversificação de abordagens que faz do folheto um material de interesse permanente. Se ontem dificilmente encontrava-se à venda um cordel assinado por uma poetisa, hoje, muitos nomes afloram com freqüência e sucesso. A igualdade feminina, tão perseguida, chegou finalmente aos cordéis com obras de VÂNIA FREITAS, ANA MARIA DE SANTANA, CLOTILDE TAVARES, FANKA, LOURDES RAMALHO, JULITA NUNES, MARIA DO ROSÁRIO LUSTOSA DA CRUZ, SALETE MARIA DA SILVA, SEBASTIANA GOMES ALMEIDA, HÉLVIA CALLOU e muitas outras.
Não posso e não devo esquecer-me de mencionar com distinção a nossa prolífera e inspirada MARIA GODELIVIE, que a cada dia nos traz um novo cordel, sempre engraçado, sempre original. A professora e poetisa Godelivie é da nova geração de cordelistas, a mais influente representante (na Paraíba). Leiam O Velhote Enxerido e comprovem.
* Manoel Monteiro é membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, onde ocupa a cadeira de nº 38, patronímica de Manoel Tomaz de Assis.
Esse texto foi publicado no Jornal O Mossoroense no dia 30 de setembro de 2007. Confira no link http://www2.uol.com.br/omossoroense/061007/conteudo/recitanda.htm
quarta-feira, 2 de abril de 2008
Aos Brincantes Cordão do Caroá
Aos Brincantes
Aos Brincantes Cordão do Caroá
Eu venho vos fazer a citação
Sobre ritmos e sons do sertão
Que ecoam do chão do Ceará
Duma tal de "cutura populá"
Que conserva os valores do passado
Que as gerações nos deixaram gravados
Como cicatrizes no coração
Por isso com imensa satisfação
Trato-lhes como mestres do Reizado.
Guethner Wirtzbiki, às 16:07 do dia primeiro de Abril de 2008.
segunda-feira, 17 de março de 2008
Soneto de Florbela Espanca
AMAR!
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui...além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar!Amar!E não amar ninguém!
Recordar?Esquecer?Indiferente!...
Prender ou desprender?É mal?É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!
E se um dia hei-de ser pó,cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...
Florbela Espanca
sexta-feira, 14 de março de 2008
14 de Março- Dia Nacional da Poesia
Abaixo, transcrevo o poema de minha autoria que está na página 11 do referido arquivo.
Cobiça
O olhar inquieto da donzela
Estava a contemplar a bela estrela
Numa busca ingênua por entendê-la
No cosmo estampada em negra tela
Pintada no céu por trás da capela
No alto da torre subia a vê-la
Querendo muito em seu íntimo tê-la
Mas o cosmo a essa vontade debela
Pois o real motivo em querer sê-la
Era roubar seu brilho para ela.
Guethner Wirtzbiki, 03/03/2008
quarta-feira, 12 de março de 2008
O desassossego do tranquilo Besq
No que tange ao seu estilo, vamos por assim dizer, livre. Desde o libertário no sentido de viver/criar ao liberto mundo que tão bem consegue retratar: Local dos cactos e dunas, falésias e coqueiros, sóis e luas, dias e noites, entre tantas outras personagens desse seu criar artístico. Pudera meu lar falar, todos vós entenderiam: Paredes marcadas pela presença de cores cadenciadas em busca de uma idéia.
Surrealista por opção e ser vivo de nascença, pouco deixa se definir por sustentar tamanha metamorfose. Dos desenhos estampados em malha aos talhados em metal, passando ainda por murais em casas e fachadas de bares, tem trabalhos espalhados da Romênia ao peitoral mais próximo, assim, como se fosse fácil percorrer o mundo. E muitas vezes o é, basta apenas acreditarmos.
Não obstante lembrar que trata-se de meu desenhista pessoal quando necessito de uma capa para um novo cordel, ato que não falha em realizar (entretanto ao tardar não digo o mesmo). Demora, demora, demora, como se estivesse maturando um pensamento, e quando decide criar, o faz em alguns instantes. Coisa de artista. Mas quanto à qualidade, devo reconhecer, é realmente espetacular. Ao olhar por seu prisma dá um toque de genialidade com sua percepção aguçada e assim consegue nos surpreender, a cada novo trabalho realizado, a cada nova técnica abordada.
Quanto à sua condição de nômade responde dizendo-se cidadão do mundo e que sem fronteiras segue seu caminho, seja Fortaleza, Guaramiranga, Canoa Quebrada, Olinda, Salvador, Jericoacora... Seja onde for e para onde for. Talvez até nem indo. Ficando. Ficando onde melhor lhe aprouver. Ele é assim, de momento. Seguindo seus instintos consegue dar um toque de pessoalidade aos seus atos, mesmo percebedor de sua notória inconstância.
Esvaiu-se no ar novamente, deixou apenas alguns cogumelos espalhados. E mais vestígios e resquícios. Talvez ele volte. Talvez não.
Guethner Wirtzbiki, 11/03/2008
terça-feira, 11 de março de 2008
Correspondência n° 1 acerca do Devir
Que em suma sua idéia em si contém
Qualidade de mudança constante
Perenidade de algo ou alguém
Devir pulsa o desejo de tornar-se
Que no âmago o ser por si já tem.
Já Deleuze interpreta diferente
Como se compreende esta questão
Sendo o viver da ordem do devir
Quanto à ordem da história, há isenção
Viver experimenta o entre, o meio
Devir fuga da formalização.
Porém como te disse anteriormente
Apenas estudo filosofia
Não tenho cacife quão nossos mestres
Para conceituar com maestria
Mas consigo extrair da atmosfera
E transformar o belo em poesia.
Pessoalmente entendo por devir
Mudança sem juizo de valor
Que nunca permite transparecer
A real intenção do seu teor
Se negativamente, qual desgraça
Se positivamente, qual o amor.
É exatamente nesta questão
Que o devir junto ao tempo põe seu crivo
O relógio do tempo avançando
Confirma o seu real objetivo
Que é mostrar ser tudo metamorfose
E o viver ser ato subjetivo.
Minha querida agora eu te pergunto
Paciente esperarei tua resposta:
Quando nos teus momentos de lazer
Quais os afazeres você mais gosta?
( E se aquele tal "pré" for retirado
eu aceito toda e qualquer proposta!)
Guethner Wirtzbiki, Janeiro de 2008.
segunda-feira, 3 de março de 2008
Mais poemas no jornal O Mossoroense
MANGA ROSA
Guethner Wirtzbiki
(Gadelha do Cordel)
guethner@msn.com
(Fortaleza/CE)
No alto da mangueira a manga rosa
Trafega em vai e vem como um badalo
Suspensa por um minúsculo talo
Num balançar de bicha preguiçosa
Rubra fruta que de deliciosa
Em suma o sumo faz ser desejado
Por saber-se que o gosto degustado
É puro e envolvente em seu sabor
Causando saboreio ao provador
E o deixando de fato saciado.
BARRENTA
Guethner Wirtzbiki
(Gadelha do Cordel)
guethner@msn.com
(Fortaleza/CE)
Se os teus lábios eu pudesse beijar
Tua boca seria o meu caminho...
Escrevendo o teu nome em pergaminho
Faço a demonstração do meu pensar.
Aceno com um sorriso ao te olhar
Nos limites internos do meu ninho,
Inicio palavras de carinho
Importantes, mais do que deve achar.
Uma vez percebi cumplicidade
Saltando dos incontáveis olhares
Seus e meus, que cruzam-se inconstantes.
Ah, se fosse o nascer felicidade
Raiando deslumbrante pelos ares
Ao possuir contigo um só instante...
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008
Apresentação do livro de poemas "Mim pra Ti" de Autoria de Raphael Barros Alves
Guethner Wirtzbiki.
Definição e origem do sobrenome Wirtzbiki
Guethner Wirtzbiki.
Escritora Fernanda Benevides escreve sobre Gadelha do Cordel e "A Saga de Franz"
Guethner Gadelha Wirtzbiki, o Gadelha do Cordel, nasceu em 08/03/1981 na cidade de Fortaleza, estado do Ceará. Desde a infância demonstra o gosto pela literatura, escrevendo pequenas histórias , que logo começam a ser publicadas em suplementos infantis de periódicos locais, ganhando concursos literários destinados à sua faixa etária.
Carrega a arte em sua herança genética, tanto do lado paterno quanto do lado materno.Seu pai, Gothardo Macedo, era dado à lida de escrever, e seu primo Dimas Macedo, é escritor reconhecido.Do lado materno, encontramos seu bisavô, o poeta Francisco Silvério, e o grande artista plástico Descartes Gadelha.
Tem textos publicados em antologias a nível nacional, nas categorias poesia e conto, publicadas pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores, CBJE, sediada no Rio de Janeiro. Possui participação, ainda, em fanzines, dos quais se destaca a sua atuação no Palavra Desordem, publicado pela comunidade da UFC.
Seu trabalho literário vem sendo reconhecido por demonstrar tamanha criatividade. Sua obra “A História de (mais um) Francisco, o Rapaz que Queria Mudar o Mundo” foi recentemente citada pelo jornal “Correio da Tarde”, do Rio Grande do Norte, que indica a sua leitura, no projeto “Pedagogia no Cordel” da coluna “Pedagogia da Gestão”, pela visão que o autor tem da política brasileira e do tipo de político que temos à nossa volta. Seu cordel “A Rebelião das Letras” foi usado didaticamente em oficina de literatura realizada pela ONG Mediação de Saberes com os jovens carentes da favela da Graviola. Alguns de seus trabalhos já alçaram o campo internacional. “A Herança do Sultão, Ou Os Três Anéis da Discórdia” após seu lançamento na 7° Bienal Internacional do Livro do Ceará, pela Tupynanquim Editora, foi apresentado no Congresso Internacional de Cultura Popular realizado no México, em 2004. Já “A Lenda do Boto” fez parte da exposição “O Ano do Brasil na França”, em 2005. Contribuiu para o 2° Congresso Internacional de Odontologia com o texto “Para Quê a Problematização?”, realizado no Centro de Convenções de Fortaleza. No texto, abordou o ‘Arco de Maguerez’ e a ‘Problematização’, elementos tais, que mesclam interesses sociais e odontológicos em prol de uma melhor assistência à comunidade. O texto foi exposto em banners e distribuído em folders durante o evento.
Segundo o poeta Batista de Lima, “o jovem tem talento e potencial”, e “parece começar de onde os outros terminam”, além de informar que “seus poemas são significativos”.
Na área da dramaturgia, escreveu a obra intitulada “O céu dos poetas” abordando valores nacionais e regionais.Sua atuação mais expressiva, no entanto, é com a cultura popular, na área destinada à literatura de cordel.
Seus cordéis tratam de diversos temas, sejam eles o Cotidiano Urbano ( Valentino, o covardão), a preservação das Lendas Brasileiras (A Lenda do Boto), a preocupação com a Saúde da população (Cordel Dental) entre outros. Sua característica mais notável, assim como Leandro Gomes de Barros, é a adaptação de textos da literatura universal para o cordel. Destacam-se “A Herança do Sultão, ou Os Três Anéis da Discórdia” adaptada do livro Decamerão, do autor italiano, Bocaccio ; “A Peleja Entre o Poeta Erudito e o Poeta Popular” adaptada do poema “Variações Semânticas” do poeta concretista Haroldo de Campos e “A Verdadeira História de Ismália” adaptada do poema “Ismália” do poeta mineiro Alphonsus de Guimaraens.
Ao lado do seu amigo Amanay Parangaba, idealiza o projeto “Palavrandante: literatura itinerante” fundando assim, o selo editorial Palavrandante, com o intuito de tornar viável a profusão da literatura, de uma forma independente do mercado editorial já existente.
Nesse novo trabalho, “A Saga de Franz”, vem mais uma vez mostrar toda a força de seu talento, com suas inovações, cada vez mais características de seu estilo. Consegue, com excelência, dar um toque de nordestinidade às suas raízes polacas e alemãs.
“A saga de Franz” é, sem sombra de dúvidas, um trabalho de beleza irretocável.
* Fernanda Benevides, Escritora.
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
O Encontro com Deus
Logo de cara, dez reais pela consulta. Dez reais para ir ao inferno e voltar. E talvez, depois, até ficar por lá. Então, ele saiu desiludido. Apático. Queria morrer. Não! Queria viver. Ele queria realmente viver. E, receoso, foi à casa de uma mulher que botava baralho. Queria ter certeza. Tinha, ao menos, que lutar.
Saiu da casa da cartomante. Queria andar. Andar sem destino. Sentia toda a dor do mundo sobre os seus ombros. Queria gritar. Gritar a sua própria dor. O seu medo. De uma fagulha de esperança, ainda tirou forças para ir à casa de uma baiana que botava búzios. Foi tímido. Cabisbaixo. Já sabia qual seria a resposta. A mulher, surpresa ao ler os búzios, falou trêmula ao homem: “-Se arrependerá de tudo que você fez. Em menos de um mês se encontrará com Deus. Eu sei que falta alguma coisa, mas só consigo ler isso”. Depois de ouvir essas palavras, o homem tirou vinte reais da carteira e pagou a baiana. Saiu de lá refletindo sobre “se arrepender de tudo que tinha feito”, e pensou: “Se vou me encontrar com Deus, e me arrepender, vou começar a fazer coisas boas para dar tudo certo”.
Foi ao banco, zerou sua poupança. Ficou somente com o necessário para dois meses (caso ocorresse algum imprevisto, afinal de contas, Deus é brasileiro) e distribuiu todo o restante com os pobres. Pegou todos os utensílios de sua casa e deu para os seus vizinhos. Doou sua casa para ser a sede de um orfanato. Virou, vamos assim dizer, um santo. Tarefa cumprida, voltou para a pousada onde havia se hospedado, pagando dois meses adiantado. E bem na porta da pousada, com um vestido decotadíssimo, ele avistou uma mulher daquelas. Extremamente desejável. Pensou consigo: “Só um flerte. Só uma noitadinha”. Depois de toda a bondade que havia realizado, Deus tinha que fazer uma mínima vista grossa, afinal, ele era um homem.
Chegou bem de mansinho com ar de conquistador barato e perguntou com a maior intimidade à moça:
-Qual a sua graça minha linda?
-Meu nome é Deusdete. E o seu?
Guethner Wirtzbiki
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008
Pré-reencontro
Modela devagar com o próprio traço
As trilhas do destino, passo a passo
No tempo que antecede ao que se expira.
Dedilha nas cordas da harpa celeste
As canções que embalam nossas vidas
Podando as coisas idas já vividas
E o livre-arbítrio que ao homem reveste.
De pouco em pouco é que tudo acontece
Restando pro futuro o outro instante
Onde o que virá não é tão distante
Senão por um momento que decresce.
Assim tudo se forma e se transforma
Dinâmica por própria natureza
E enquanto a vida transpõe tantas normas
Quisera eu dominar toda a incerteza.
Um dia o reencontro é inevitável
Eterno, sublime e inquestionável
Intenso, mesmo que num só olhar,
Recomeçando então outra saudade
Ocada na lembrança da unidade
Zerada quando deixar de esperar...
Guethner Wirtzbiki, Janeiro de 2008
*Poema publicado na seção Poesia do caderno Universo do Jornal O Mossoroense no dia 03/02/2008.
Link da página do jornal: http://www2.uol.com.br/omossoroense/030208/conteudo/poesia.htm
terça-feira, 12 de fevereiro de 2008
New Mondubas
Dos azulejos pequenos
Dos vizinhos truculentos
Dos blocos sem esperança
Do pré-conjunto Esperança
Dos bebuns de botequim
Do chafariz de água limpa
Das cascas de amendoim
Do arisco revolvido
Do chão que sente o peão
Rodopiando, assistido
Arremessado ao chão
Pelas mãos de uma criança
Que sorrindo, sem pujança
Mantém a pipa no ar
Às rumas, de pés descalços
Bem às margem do Contorno
O tapete de asfalto
Que divide bem ao meio
Casas e apartamentos
Lembranças e sentimentos
Como que um afluente
Vindo da Perimetral.
Guethner Wirtzbiki, 12/02/08
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008
Gadelha do Cordel no Jornal O Mossoroense
Abaixo, dois poemas para apreciação, "Descrença" e "O poeta e a bailarina":
Descrença
O corpo, a mente e a alma em amargura
do coração arrancam a emoção
e pouco a pouco abalam as estruturas
furtando os alicerces da razão.
Negada a vida dura ante à fissura
nega a cura do vício da ilusão
caminha sobre o abismo da loucura
o homem preso à torpe depressão.
Envolto na maré cheio de medo
que nesse vai e vem de sentimentos
obriga à vida e à morte o tal dissídio.
Mesmo sabendo ser ainda tão cedo
de fraco não aguenta os seus tormentos
e entrega a própria vida ao suicídio.
O poeta e a bailarina
"O amor não se aprende nem se ensina"
Escreveu o poeta em poesia
Ao inspirar-se ao som da melodia
Que na alma incitava mais sua sina.
A palidez alva dessa menina
Que de porcelana se revestia
Girando em cadência de harmonia
Sobre a sua caixinha, a bailarina.
Incansável o viajante sonhador
Mesmo sabendo que não podia tê-la
Deslumbrava-se enquanto ia fitá-la.
Mas de tão abstrato que era o amor
Tinha que contentar-se só em vê-la
Ousando de vez em quando tocá-la.
quinta-feira, 31 de janeiro de 2008
Amanda
Noites a fio, madrugadas adentro, curava suas dores afogando as mágoas em qualquer substância etílica que lhe aparecesse. Cotovelo ferido, olhos desgostosos, bebia e chorava, cantava e sorria, lembrava e morria, todos os dias, dia após dia. E era assim que desde então ele vivia. Pobre doente de amor a contar e recontar os seus fracassos amorosos.
Um dia deixou um pouco de lado aquela estranheza habitual que o estava dominando e saiu para beber com alguns velhos amigos. Todos queriam animá-lo e acabou sendo uma noite super agradável. Bebeu, bebeu, sorriu, abraçou, fumou e conversou bastante. Fazia tempo! E enquanto a química rolava, o porre se esticava. A cada estabelecimento que fechava por causa do horário que ia se prolongando, eles pediam a saideira, depois a ideira e logo após a expulsadeira, botando maior boneco pra irem embora. De bar em bar, foram descendo pelo caminho que levava ao centro, e depois à praia.
Cinco da manhã, a mente em alta, a comédia acabando, nascia o sol lá na tênue divisa entre o céu e o mar. Olhou aquilo e lembrou-se de como era lindo o nascer do sol e de quanto tempo já ele não o via. Ao observar seus amigos, os viu aos pares, abraçadinhos, casal por casal, se aquecendo naquele friozinho que a brisa traz no amanhecer. Sentiu-se só e pensou no quanto era importante uma pessoa ao seu lado, a quem ele pudesse contar seus problemas, com quem ele quisesse partilhar suas experiências. Então lembrou de sua decisão de não mais poder amar, de não mais se deixar envolver, de não mais sofrer de amor (como se houvesse uma forma de fazê-lo), de não mais passar pelo que passou. Mas era tão importante alguém. Alguém que fosse sua cúmplice, alguém que tivesse afinidades com ele. Mas quem? Quem seria essa mulher? Quem seria essa capaz de em si ter todas as qualidades que eram fundamentais para ele? Só um sonho mesmo. Só se ela fosse inventada. Ops! Inventada?
Sim. Como era boa a idéia. Ele criaria para ele mesmo a mulher ideal. A mulher que fosse realmente o encaixe perfeito dele próprio. Linda, cheirosa, simpática, carinhosa, inteligente, agradável, atenciosa, ma-ra-vi-lho-sa... Possuidora de todas as qualidades que ele pudesse imaginar. Bingo! Que jogada de mestre. E foi assim que ele fez. Começou a inventá-la dando-lhe qualidades essenciais para um convívio a dois, mesmo que seu lar fosse apenas a sua imaginação. Mas como chamá-la? Afinal, o amor da sua vida tinha que ter um nome.Um nome especial. Um nome ímpar. Mas qual? Pensou em vários até que decidiu-se por Amanda. “Digna de ser amada”. Pois era essa a mulher com que sonhava. Haveria de ser uma mulher digna de ser amada. Digna de possuir o seu amor. Digna de receber todas as glórias, todos os cânticos, todos os versos.
Voltou para casa pensando em Amanda. De como faria para se comunicar com ela. Afinal, ficar de bobeira só pensando não dava um ar de realismo ao seu plano. Das suas entranhas de ex-poeta-de-caderninho-que-não-mostra-pra-ninguém tirou alguma veia poética e começou a escrever um poema. Um poema para Amanda. Um poema para o seu amor.
Poesia à parte, escreveu seu texto e o guardou numa caixa. Um dia o entregaria pessoalmente. Tinha certeza disso. Sua Dulcinéia particular. Sua Julieta metafísica.
Amanda era tudo de bom. Logo, logo seu astral mudou, sua auto-estima ficou em alta. Todos percebiam. Agora tinha um motivo para ser feliz. Amanda existia. E ela era perfeita. Um dia iam se encontrar, para concretizarem seu amor. Mas enquanto isso não acontecia, ele escrevia-lhe cartas, poemas, bilhetes, os quais colocava em envelopes antes de guardar na mesma caixa. Infelizmente não tinha o seu endereço e por isso não podia enviar as cartas à Amanda. Estava guardando para um momento único, quando enfim se encontrariam. Num futuro próximo, segundo ele.
Passava o dia assim, pensando em Amanda, escrevendo-lhe seus sentimentos, seus pensamentos, seus planos... Aéreo do mundo e de tudo em sua volta, como se só existissem eles dois.
Um dia um gozador morador da vizinha passou e foi insultar-lhe.
-O que você está escrevendo? Aquelas cartas de amor que você guarda numa caixa? Pra uma suposta mulher que somente você viu na praia?
-Sim. São para Amanda. Minha amada. Um dia nos reencontraremos. Ela está me esperando. Ela me ama.
-Te ama? Kkkkkkk. Como pode afirmar isso se você tem todas as cartas em seu poder? Ela nunca leu nenhuma dessas cartas. Ela nem lembra de você.
-Mas, mas...
O gozador começou a vaiá-lo. O rapaz pegou sua caixa e saiu cabisbaixo. Envergonhado. E o pior: desiludido. Afinal, o gozador tinha razão, Amanda sequer recebeu uma correspondência sua. Sequer lembrava que ele existia. Emudecido foi ao bar, pediu uma terça de pinga, tomou de dois goles. Na sinuca, o malandro o fitava dos pés a cabeça. Mapeou suas expressões e perguntou curioso:
-O que aconteceu? Nunca mais te vi bebendo. Tinha se curado daquelas dores de cotovelo e nunca mais apareceu por aqui. Andava só escrevendo umas cartas pra uma namorada sua que mora fora.
-É justamente por causa dela que voltei.
-E o que ela fez contigo?
-Não foi ela. Fui eu. Nunca consegui pegar seu endereço, então todas as cartas que escrevi estão aqui nesta caixa. Ela sequer sabe que eu existo. Nunca mais nos vimos depois do nosso primeiro encontro.
-E onde é que foi o primeiro encontro?
-Foi na praia. Na orla.
-Então volta lá, mané. Talvez alguém te informe.
Saiu às pressas dando obrigado ao malandro. Correu o máximo que pôde. Tinha que chegar na praia urgentemente. Como não tinha pensado nisso antes? Era óbvio. Ao chegar no mesmo local daquela noitada que ocasionou seu primeiro encontro com sua amada, parou, olhou em volta e não viu ninguém que a conhecesse. Ficou lá sentado, na esperança de que Amanda aparecesse por lá. Enquanto anoitecia, ele lia as cartas, os bilhetes, os poemas e lembrava de tudo o que viveram juntos. Recordava de cada detalhe de seu rosto, de cada expressão de seu sorriso. Como era bela, como era delicada. O tempo passou rápido, o galo cantou, logo amanheceu. O sol foi despontando devagarzinho, ele deslumbrou-se com o nascer do dia. Fazia tempo que não via, desde seu primeiro encontro com Amanda (aliás, nos últimos tempos, ele só tinha tempo para ela). Era mesmo uma coincidência. Olhou pro céu, olhou pro mar, olhou pro sol...Pensou consigo sobre a procedência de Amanda. Tão maravilhosa, tão estupenda. Fitou novamente o encontro do céu, do sol e do mar. Foi como reencontrar com ela. Sentia sua presença ali. E era forte demais.
Pegou a caixa com as cartas e arremessou contra a maré. As ondas a levariam para o alto oceano. Sorridente, ele tinha certeza: mulher como aquela só podia morar no horizonte, lá por detrás da alvorada.
Guethner Wirtzbiki, 30/01/2008