sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Definição e origem do sobrenome Wirtzbiki

Wierzbicki significa “natural ou habitante de Wierzbica”. Wierzbica é um território do noroeste da Polônia, que faz fronteira com a Alemanha e que assim é nomeada pela presença abundante de ‘Wierzba’ na sua região. Wierzba é o nome polaco do salgueiro, nome das plantas do gênero Salix, da família Salicaceae. O nome Salix provavelmente é oriundo do celta e significa ‘próximo da água’. A casca do tronco do Salix é utilizada para a produção da aspirina, e é justamente da forma latina do salgueiro(Salix) que se deriva o nome Ácido acetilsalicílico. Do salgueiro também se produz o vime, que tão importante é na tradicional cestaria e produção de mobiliário artesanal.


Guethner Wirtzbiki.

Escritora Fernanda Benevides escreve sobre Gadelha do Cordel e "A Saga de Franz"

Texto Publicado na terceira capa do livreto "A saga de Franz"


Guethner Gadelha Wirtzbiki, o Gadelha do Cordel, nasceu em 08/03/1981 na cidade de Fortaleza, estado do Ceará. Desde a infância demonstra o gosto pela literatura, escrevendo pequenas histórias , que logo começam a ser publicadas em suplementos infantis de periódicos locais, ganhando concursos literários destinados à sua faixa etária.
Carrega a arte em sua herança genética, tanto do lado paterno quanto do lado materno.Seu pai, Gothardo Macedo, era dado à lida de escrever, e seu primo Dimas Macedo, é escritor reconhecido.Do lado materno, encontramos seu bisavô, o poeta Francisco Silvério, e o grande artista plástico Descartes Gadelha.
Tem textos publicados em antologias a nível nacional, nas categorias poesia e conto, publicadas pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores, CBJE, sediada no Rio de Janeiro. Possui participação, ainda, em fanzines, dos quais se destaca a sua atuação no Palavra Desordem, publicado pela comunidade da UFC.
Seu trabalho literário vem sendo reconhecido por demonstrar tamanha criatividade. Sua obra “A História de (mais um) Francisco, o Rapaz que Queria Mudar o Mundo” foi recentemente citada pelo jornal “Correio da Tarde”, do Rio Grande do Norte, que indica a sua leitura, no projeto “Pedagogia no Cordel” da coluna “Pedagogia da Gestão”, pela visão que o autor tem da política brasileira e do tipo de político que temos à nossa volta. Seu cordel “A Rebelião das Letras” foi usado didaticamente em oficina de literatura realizada pela ONG Mediação de Saberes com os jovens carentes da favela da Graviola. Alguns de seus trabalhos já alçaram o campo internacional. “A Herança do Sultão, Ou Os Três Anéis da Discórdia” após seu lançamento na 7° Bienal Internacional do Livro do Ceará, pela Tupynanquim Editora, foi apresentado no Congresso Internacional de Cultura Popular realizado no México, em 2004. Já “A Lenda do Boto” fez parte da exposição “O Ano do Brasil na França”, em 2005. Contribuiu para o 2° Congresso Internacional de Odontologia com o texto “Para Quê a Problematização?”, realizado no Centro de Convenções de Fortaleza. No texto, abordou o ‘Arco de Maguerez’ e a ‘Problematização’, elementos tais, que mesclam interesses sociais e odontológicos em prol de uma melhor assistência à comunidade. O texto foi exposto em banners e distribuído em folders durante o evento.
Segundo o poeta Batista de Lima, “o jovem tem talento e potencial”, e “parece começar de onde os outros terminam”, além de informar que “seus poemas são significativos”.
Na área da dramaturgia, escreveu a obra intitulada “O céu dos poetas” abordando valores nacionais e regionais.Sua atuação mais expressiva, no entanto, é com a cultura popular, na área destinada à literatura de cordel.
Seus cordéis tratam de diversos temas, sejam eles o Cotidiano Urbano ( Valentino, o covardão), a preservação das Lendas Brasileiras (A Lenda do Boto), a preocupação com a Saúde da população (Cordel Dental) entre outros. Sua característica mais notável, assim como Leandro Gomes de Barros, é a adaptação de textos da literatura universal para o cordel. Destacam-se “A Herança do Sultão, ou Os Três Anéis da Discórdia” adaptada do livro Decamerão, do autor italiano, Bocaccio ; “A Peleja Entre o Poeta Erudito e o Poeta Popular” adaptada do poema “Variações Semânticas” do poeta concretista Haroldo de Campos e “A Verdadeira História de Ismália” adaptada do poema “Ismália” do poeta mineiro Alphonsus de Guimaraens.
Ao lado do seu amigo Amanay Parangaba, idealiza o projeto “Palavrandante: literatura itinerante” fundando assim, o selo editorial Palavrandante, com o intuito de tornar viável a profusão da literatura, de uma forma independente do mercado editorial já existente.
Nesse novo trabalho, “A Saga de Franz”, vem mais uma vez mostrar toda a força de seu talento, com suas inovações, cada vez mais características de seu estilo. Consegue, com excelência, dar um toque de nordestinidade às suas raízes polacas e alemãs.
“A saga de Franz” é, sem sombra de dúvidas, um trabalho de beleza irretocável.


* Fernanda Benevides, Escritora.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

O Encontro com Deus

Era a primeira vez que ele fazia aquilo. Ir a uma médium consultar sobre o seu destino. Estava apreensivo. Eufórico. Entrou na casa, que era toda decorada em estilo esotérico, e sentou-se na cadeira. A mulher encarregada de desvendar-lhe o futuro sentou-se também. Cantou um mantra. Ele arrepiou-se todo. E com uma voz sombria, ela revelou-lhe: “-Logo, logo terás um encontro com Deus. Eu sei que falta alguma coisa, mas só consigo ver isso”. E então ele ficou nervoso. Impaciente. Na melhor das hipóteses, iria morrer.E a partir daquele instante, ele só teria mais e mais decepções.
Logo de cara, dez reais pela consulta. Dez reais para ir ao inferno e voltar. E talvez, depois, até ficar por lá. Então, ele saiu desiludido. Apático. Queria morrer. Não! Queria viver. Ele queria realmente viver. E, receoso, foi à casa de uma mulher que botava baralho. Queria ter certeza. Tinha, ao menos, que lutar.
E a mulher, pondo o baralho, com olhar apreensivo, disse-lhe: “-Em menos de um mês terás um encontro com Deus. Eu sei que falta alguma coisa, mas só vejo isso”. Deixando o olhar apreensivo de lado, deu um sorriso estonteante e estendeu a mão, levando quinze reais da nossa personagem. E agora? O que fazer? O destino estava fadado. Haveria a morte, haveria o encontro com Deus. E em breve.
Saiu da casa da cartomante. Queria andar. Andar sem destino. Sentia toda a dor do mundo sobre os seus ombros. Queria gritar. Gritar a sua própria dor. O seu medo. De uma fagulha de esperança, ainda tirou forças para ir à casa de uma baiana que botava búzios. Foi tímido. Cabisbaixo. Já sabia qual seria a resposta. A mulher, surpresa ao ler os búzios, falou trêmula ao homem: “-Se arrependerá de tudo que você fez. Em menos de um mês se encontrará com Deus. Eu sei que falta alguma coisa, mas só consigo ler isso”. Depois de ouvir essas palavras, o homem tirou vinte reais da carteira e pagou a baiana. Saiu de lá refletindo sobre “se arrepender de tudo que tinha feito”, e pensou: “Se vou me encontrar com Deus, e me arrepender, vou começar a fazer coisas boas para dar tudo certo”.
Foi ao banco, zerou sua poupança. Ficou somente com o necessário para dois meses (caso ocorresse algum imprevisto, afinal de contas, Deus é brasileiro) e distribuiu todo o restante com os pobres. Pegou todos os utensílios de sua casa e deu para os seus vizinhos. Doou sua casa para ser a sede de um orfanato. Virou, vamos assim dizer, um santo. Tarefa cumprida, voltou para a pousada onde havia se hospedado, pagando dois meses adiantado. E bem na porta da pousada, com um vestido decotadíssimo, ele avistou uma mulher daquelas. Extremamente desejável. Pensou consigo: “Só um flerte. Só uma noitadinha”. Depois de toda a bondade que havia realizado, Deus tinha que fazer uma mínima vista grossa, afinal, ele era um homem.
Chegou bem de mansinho com ar de conquistador barato e perguntou com a maior intimidade à moça:
-Qual a sua graça minha linda?
-Meu nome é Deusdete. E o seu?

Guethner Wirtzbiki
* Conto publicado no livro Encontos e desencontos, um dos vencedores do Edital de Incentivo à literatura da Prefeitura de Fortaleza.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Pré-reencontro

Ao passo que no espaço o mundo gira
Modela devagar com o próprio traço
As trilhas do destino, passo a passo
No tempo que antecede ao que se expira.
Dedilha nas cordas da harpa celeste
As canções que embalam nossas vidas
Podando as coisas idas já vividas
E o livre-arbítrio que ao homem reveste.
De pouco em pouco é que tudo acontece
Restando pro futuro o outro instante
Onde o que virá não é tão distante
Senão por um momento que decresce.
Assim tudo se forma e se transforma
Dinâmica por própria natureza
E enquanto a vida transpõe tantas normas
Quisera eu dominar toda a incerteza.
Um dia o reencontro é inevitável
Eterno, sublime e inquestionável
Intenso, mesmo que num só olhar,
Recomeçando então outra saudade
Ocada na lembrança da unidade
Zerada quando deixar de esperar...

Guethner Wirtzbiki, Janeiro de 2008


*Poema publicado na seção Poesia do caderno Universo do Jornal O Mossoroense no dia 03/02/2008.

Link da página do jornal: http://www2.uol.com.br/omossoroense/030208/conteudo/poesia.htm

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

New Mondubas

Novo Mondubim raquítico
Dos azulejos pequenos
Dos vizinhos truculentos
Dos blocos sem esperança
Do pré-conjunto Esperança
Dos bebuns de botequim
Do chafariz de água limpa
Das cascas de amendoim
Do arisco revolvido
Do chão que sente o peão
Rodopiando, assistido
Arremessado ao chão
Pelas mãos de uma criança
Que sorrindo, sem pujança
Mantém a pipa no ar
Às rumas, de pés descalços
Bem às margem do Contorno
O tapete de asfalto
Que divide bem ao meio
Casas e apartamentos
Lembranças e sentimentos
Como que um afluente
Vindo da Perimetral.

Guethner Wirtzbiki, 12/02/08

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Gadelha do Cordel no Jornal O Mossoroense

Após contato com Caio Muniz, editor da seção poesia do caderno universo do jornal O Mossoroense, começou uma parceria desde outubro do ano passado. Alguns textos meus já foram veiculados, dos quais ,"Descrença" (http://www2.uol.com.br/omossoroense/291107/conteudo/poesia.htm), "O Poeta e a bailarina" (http://www2.uol.com.br/omossoroense/091207/conteudo/poesia.htm) e "Saudades" (http://www2.uol.com.br/omossoroense/130108/conteudo/poesia.htm), se destacam por sua qualidade literária. Há ainda o poema acrótico É poema! É poema! É poema, (http://www2.uol.com.br/omossoroense/301207/conteudo/poesia.htm). Próximo domingo tem mais, será publicado o poema "Pré-reencontro", vale conferir.

Abaixo, dois poemas para apreciação, "Descrença" e "O poeta e a bailarina":

Descrença

O corpo, a mente e a alma em amargura
do coração arrancam a emoção
e pouco a pouco abalam as estruturas
furtando os alicerces da razão.

Negada a vida dura ante à fissura
nega a cura do vício da ilusão
caminha sobre o abismo da loucura
o homem preso à torpe depressão.

Envolto na maré cheio de medo
que nesse vai e vem de sentimentos
obriga à vida e à morte o tal dissídio.

Mesmo sabendo ser ainda tão cedo
de fraco não aguenta os seus tormentos
e entrega a própria vida ao suicídio.

O poeta e a bailarina

"O amor não se aprende nem se ensina"
Escreveu o poeta em poesia
Ao inspirar-se ao som da melodia
Que na alma incitava mais sua sina.

A palidez alva dessa menina
Que de porcelana se revestia
Girando em cadência de harmonia
Sobre a sua caixinha, a bailarina.

Incansável o viajante sonhador
Mesmo sabendo que não podia tê-la
Deslumbrava-se enquanto ia fitá-la.

Mas de tão abstrato que era o amor
Tinha que contentar-se só em vê-la
Ousando de vez em quando tocá-la.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Amanda

Depois de tantos amores e desamores, encontros e desencontros e mais tantos outros possíveis reencontros, ele deixou de amar. Perdeu a esperança talvez como conseqüência por já ter perdido tanto as estribeiras. Há muito estava cansado. Pensava até em abster-se de todo prazer carnal que o sexo e outras delícias pudessem lhe conferir, mas em poucos instantes obviamente mudou de idéia. Porém amar, isso jamais. Isso nunca mais. Tinha certeza absoluta. Tocar, cheirar, beijar, lamber, morder, transar, gozar... Tudo era aceito para satisfazer aquele seu corpo sedento de contato. Mas voltar a amar, isso não poderia se permitir.
Noites a fio, madrugadas adentro, curava suas dores afogando as mágoas em qualquer substância etílica que lhe aparecesse. Cotovelo ferido, olhos desgostosos, bebia e chorava, cantava e sorria, lembrava e morria, todos os dias, dia após dia. E era assim que desde então ele vivia. Pobre doente de amor a contar e recontar os seus fracassos amorosos.
Um dia deixou um pouco de lado aquela estranheza habitual que o estava dominando e saiu para beber com alguns velhos amigos. Todos queriam animá-lo e acabou sendo uma noite super agradável. Bebeu, bebeu, sorriu, abraçou, fumou e conversou bastante. Fazia tempo! E enquanto a química rolava, o porre se esticava. A cada estabelecimento que fechava por causa do horário que ia se prolongando, eles pediam a saideira, depois a ideira e logo após a expulsadeira, botando maior boneco pra irem embora. De bar em bar, foram descendo pelo caminho que levava ao centro, e depois à praia.
Cinco da manhã, a mente em alta, a comédia acabando, nascia o sol lá na tênue divisa entre o céu e o mar. Olhou aquilo e lembrou-se de como era lindo o nascer do sol e de quanto tempo já ele não o via. Ao observar seus amigos, os viu aos pares, abraçadinhos, casal por casal, se aquecendo naquele friozinho que a brisa traz no amanhecer. Sentiu-se só e pensou no quanto era importante uma pessoa ao seu lado, a quem ele pudesse contar seus problemas, com quem ele quisesse partilhar suas experiências. Então lembrou de sua decisão de não mais poder amar, de não mais se deixar envolver, de não mais sofrer de amor (como se houvesse uma forma de fazê-lo), de não mais passar pelo que passou. Mas era tão importante alguém. Alguém que fosse sua cúmplice, alguém que tivesse afinidades com ele. Mas quem? Quem seria essa mulher? Quem seria essa capaz de em si ter todas as qualidades que eram fundamentais para ele? Só um sonho mesmo. Só se ela fosse inventada. Ops! Inventada?
Sim. Como era boa a idéia. Ele criaria para ele mesmo a mulher ideal. A mulher que fosse realmente o encaixe perfeito dele próprio. Linda, cheirosa, simpática, carinhosa, inteligente, agradável, atenciosa, ma-ra-vi-lho-sa... Possuidora de todas as qualidades que ele pudesse imaginar. Bingo! Que jogada de mestre. E foi assim que ele fez. Começou a inventá-la dando-lhe qualidades essenciais para um convívio a dois, mesmo que seu lar fosse apenas a sua imaginação. Mas como chamá-la? Afinal, o amor da sua vida tinha que ter um nome.Um nome especial. Um nome ímpar. Mas qual? Pensou em vários até que decidiu-se por Amanda. “Digna de ser amada”. Pois era essa a mulher com que sonhava. Haveria de ser uma mulher digna de ser amada. Digna de possuir o seu amor. Digna de receber todas as glórias, todos os cânticos, todos os versos.
Voltou para casa pensando em Amanda. De como faria para se comunicar com ela. Afinal, ficar de bobeira só pensando não dava um ar de realismo ao seu plano. Das suas entranhas de ex-poeta-de-caderninho-que-não-mostra-pra-ninguém tirou alguma veia poética e começou a escrever um poema. Um poema para Amanda. Um poema para o seu amor.
Poesia à parte, escreveu seu texto e o guardou numa caixa. Um dia o entregaria pessoalmente. Tinha certeza disso. Sua Dulcinéia particular. Sua Julieta metafísica.
Amanda era tudo de bom. Logo, logo seu astral mudou, sua auto-estima ficou em alta. Todos percebiam. Agora tinha um motivo para ser feliz. Amanda existia. E ela era perfeita. Um dia iam se encontrar, para concretizarem seu amor. Mas enquanto isso não acontecia, ele escrevia-lhe cartas, poemas, bilhetes, os quais colocava em envelopes antes de guardar na mesma caixa. Infelizmente não tinha o seu endereço e por isso não podia enviar as cartas à Amanda. Estava guardando para um momento único, quando enfim se encontrariam. Num futuro próximo, segundo ele.
Passava o dia assim, pensando em Amanda, escrevendo-lhe seus sentimentos, seus pensamentos, seus planos... Aéreo do mundo e de tudo em sua volta, como se só existissem eles dois.
Um dia um gozador morador da vizinha passou e foi insultar-lhe.

-O que você está escrevendo? Aquelas cartas de amor que você guarda numa caixa? Pra uma suposta mulher que somente você viu na praia?
-Sim. São para Amanda. Minha amada. Um dia nos reencontraremos. Ela está me esperando. Ela me ama.
-Te ama? Kkkkkkk. Como pode afirmar isso se você tem todas as cartas em seu poder? Ela nunca leu nenhuma dessas cartas. Ela nem lembra de você.
-Mas, mas...

O gozador começou a vaiá-lo. O rapaz pegou sua caixa e saiu cabisbaixo. Envergonhado. E o pior: desiludido. Afinal, o gozador tinha razão, Amanda sequer recebeu uma correspondência sua. Sequer lembrava que ele existia. Emudecido foi ao bar, pediu uma terça de pinga, tomou de dois goles. Na sinuca, o malandro o fitava dos pés a cabeça. Mapeou suas expressões e perguntou curioso:

-O que aconteceu? Nunca mais te vi bebendo. Tinha se curado daquelas dores de cotovelo e nunca mais apareceu por aqui. Andava só escrevendo umas cartas pra uma namorada sua que mora fora.
-É justamente por causa dela que voltei.
-E o que ela fez contigo?
-Não foi ela. Fui eu. Nunca consegui pegar seu endereço, então todas as cartas que escrevi estão aqui nesta caixa. Ela sequer sabe que eu existo. Nunca mais nos vimos depois do nosso primeiro encontro.
-E onde é que foi o primeiro encontro?
-Foi na praia. Na orla.
-Então volta lá, mané. Talvez alguém te informe.

Saiu às pressas dando obrigado ao malandro. Correu o máximo que pôde. Tinha que chegar na praia urgentemente. Como não tinha pensado nisso antes? Era óbvio. Ao chegar no mesmo local daquela noitada que ocasionou seu primeiro encontro com sua amada, parou, olhou em volta e não viu ninguém que a conhecesse. Ficou lá sentado, na esperança de que Amanda aparecesse por lá. Enquanto anoitecia, ele lia as cartas, os bilhetes, os poemas e lembrava de tudo o que viveram juntos. Recordava de cada detalhe de seu rosto, de cada expressão de seu sorriso. Como era bela, como era delicada. O tempo passou rápido, o galo cantou, logo amanheceu. O sol foi despontando devagarzinho, ele deslumbrou-se com o nascer do dia. Fazia tempo que não via, desde seu primeiro encontro com Amanda (aliás, nos últimos tempos, ele só tinha tempo para ela). Era mesmo uma coincidência. Olhou pro céu, olhou pro mar, olhou pro sol...Pensou consigo sobre a procedência de Amanda. Tão maravilhosa, tão estupenda. Fitou novamente o encontro do céu, do sol e do mar. Foi como reencontrar com ela. Sentia sua presença ali. E era forte demais.
Pegou a caixa com as cartas e arremessou contra a maré. As ondas a levariam para o alto oceano. Sorridente, ele tinha certeza: mulher como aquela só podia morar no horizonte, lá por detrás da alvorada.


Guethner Wirtzbiki, 30/01/2008